Ao me olhar distraída no espelho
Percebo em meu reflexo
Que os anos passam,
Envelheço.
Vejo e constato
Que o que mais me assusta,
Não são mais as rugas
Que ganhei em cada alegria
Ou em cada lágrima vivida.
O que mais me assusta
É ver a escassez das mãos que afagam,
A solidariedade se esvaindo
Como castelo de areia.
É a descoberta dos sorrisos falsos estampados
Nas faces de muitos
Que os julgavam verdadeiros.
É constatar que a bondade
Deveria ser comum a todos,
Mas são poucos que a possuem.
Enquanto constato sua precariedade,
Deparo com muitos que se desesperam,
Afundando-se na angústia da falta de amor.
Se houvesse um pouco mais de ternura
Muitos se salvariam do naufrágio deste sofrimento.
Deste imenso tormento!
O que mais me assusta…
É ouvir cada vez mais
Diálogos vazios,
Onde a inveja se esconde
Nas entrelinhas das palavras.
Onde as frívolas comparações,
Passam a ser importantes
Para almas mesquinhas.
Esqueceram que o diálogo enriquece,
Enobrece,
E acrescenta muitas vezes nosso interior.
O que mais me assusta…
É constatar que transformam o tão nobre diálogo
Em disputa, vã glória, onde só se elogia a si próprio,
Deixando de lado a parte gloriosa, que nos engrandece.
O que mais me assusta…
É que, nos vendo tão diferentes,
Acabamos ficando
Com nós mesmos,
Sozinhos,
No nosso ninho acolhedor,
Onde só nós nos compreendemos.
Muitos pensam que isso é solidão,
Tristeza ou depressão.
Pobres dos que pensam assim!
No meu aconchego
Encontro a alegria que não vejo no mundo
Onde os sorrisos brotam de uma falsa alegria.
A minha alegria vem de dentro
E não tenho necessidade de demonstrá-la.
O importante é senti-la intensamente a cada instante
Enquanto vivo.
Na minha quietude
Posso chorar também verdadeiramente,
E achar soluções sozinha,
Já que o diálogo da vida,
Agora me apresenta vazio.
O que mais me assusta,
Realmente,
Não são mais as rugas,
Que marcaram cada passo que dei
Na minha trajetória da vida.
Isto pra mim passou a ser vida.
O que mais me assusta…
É olhar no espelho,
E lembrar…
Que muitas pessoas das quais tinha certeza
Que o coração era grande,
Hoje não têm mais coração.
Perderam em alguma esquina da vida,
E nem se deram conta desta perda.
Alguns perceberam inconscientemente
E se vangloriam por isso.
Não sabem que perderam
A coisa mais valiosa da vida!!!
Ah! Os anos!!
O reflexo do espelho me diz:
Como passaram!!
Como aprendi!!
Rugas….
Que marcam minha face,
Iguais aos sentimentos que levo dentro de mim.
Assim,
Lembrarei de todos os passos,
Caminhos que vivi
Senti
Amei
Chorei
Sorri
Sem que possa jamais esquecê-los!
Rugas?
Deixem que fiquem em paz,
Assim como estou,
Apesar de ver os obstáculos
Que ainda tenho que ultrapassar.
Com garra,
Mas com muito amor!
Pois é através dele
Que nos vem a força,
Transformando o sofrimento em alegria!
Maria Lucia - (Poema extraído do livro "Conversando com o Silêncio")
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