A Oração Litúrgica

O universo da oração é tão vasto como as estrelas do céu ou como a areia da praia, cujos grãos são incalculáveis. Entre tantas formas de oração, vale destacar a litúrgica como algo muito significativo, maravilhoso, onde sentimento, fé e arte se mesclam com a sabedoria da mente e do coração, formando o mundo espiritual dos gestos e do sagrado.

Mas o que é liturgia?

Na tradução grega do Antigo Testamento, chamada dos Setenta, a palavra "liturgia" significa serviço religioso prestado em favor do povo, dirigido a Deus. Portanto, algo sagrado.
É um "culto público feito em nome da Igreja"; podemos dizer também que é um caminho, um meio mais fácil e eficaz para entrar em comunhão com Deus e nos encher de alegria.
É importante lembrar que na oração litúrgica não cabem "outras orações ou devoções". Sobretudo antes do Concílio Vaticano II, era normal, por exemplo, ver o povo rezar o terço, fazer via-sacra ou outra prática de piedade durante a missa. Porém, este Concílio ensina que cada coisa deve ter ser teu tempo e lugar.
"Os piedosos exercícios do povo cristão, conquanto conformes às leis e normas da Igreja, são encarecidamente recomendados, sobretudo quando são feitos por ordem da Sé Apostólica. Gozam ainda de especial dignidade as práticas religiosas das Igrejas particulares, que se celebram por ordem dos Bispos, conforme os costumes ou livros legitimamente aprovados. Assim, pois, considerando os tempos litúrgicos, estes exercícios devem ser organizados de tal maneira que condigam com a Sagrada Liturgia, dela de alguma forma derivem, para ela encaminhem o povo, pois que ela, por sua natureza, em muito os supera" (SC 13).
Portanto, não se trata de desprezar os exercícios de piedade, mas de reorientá-los, pois fazem parte da grande oração da Igreja e devem ser alimentados para que o povo possa perceber que a oração, na sua profundidade e grandeza, não se esgota em um só ato.

Liturgia, ápice e caminho de oração

Cada expressão litúrgica, palavra ou gesto, é caminho de comunhão com Deus, é encontro com o mistério, extasiamento e adoração ao Invisível que se faz presente com sua força e seu amor.
Quem participa de uma celebração litúrgica deve ser levado ao sentido místico de cada ato, a mergulhar no santuário do seu interior e perceber que Deus o santifica e o invade com toda a sua força. A liturgia torna-se assim ápice, maior manifestação e fonte de toda oração; a liturgia nos leva à oração pessoal e esta transborda na necessidade da oração litúrgica. Há momentos em que precisamos celebrar junto com a comunidade o que se passa na nossa vida de fé.
É preciso dar espaço para a oração que assume esta realidade litúrgico-comunitária. Por isso toda oração deve ser preparada, especialmente quando se trata da oração litúrgica, como a Eucaristia e outras formas. Tudo concorre para que o nosso espírito possa encontrar alimento substancioso para a vida espiritual.
Os símbolos da "liturgia" falam por si mesmos: paramentos, flores, velas, as procissões, incenso, são meios que, no seu silêncio, têm uma voz muito forte e que nos convidam a uma comunhão com o transcendente. As músicas também devem estar numa sintonia com o mistério litúrgico que celebramos. Há um direcionamento de tudo o que realizamos para que o mistério se faça mais compreensível.
A todos, aconselho a se prepararem para celebrar bem a liturgia com amor, meditando a Palavra de Deus e deixando que o Espírito do Senhor nos transporte à contemplação dos mistérios.

Rezar a liturgia

Entre tantos caminhos de "oração" que nos são oferecidos não há a menor dúvida que a liturgia é um dos mais belos, o principal, o caminho real que com seus gestos, sua beleza, sua arte e especialmente com seu dinamismo em fazer-nos reviver a "memória de Jesus", nos faz penetrar na silenciosa e adoradora contemplação do mistério do amor. Rezar a liturgia quer dizer não sermos simples espectadores, preocupados com a estética litúrgica, mas com o mistério que estamos celebrando.
A liturgia é fonte de meditação, de oração vocal, de contemplação e de "êxtase". Os místicos sempre tiveram um grande amor para com a liturgia, mesmo quando sabiam que o mistério de Deus poderia arrebatá-los. Assim Santa Teresa de Ávila amava a liturgia, embora de vez em quando caía em profundas visões e êxtases místicos, dizia que daria mil vidas por uma única cerimônia da Igreja... Conta-se de São Filipe Neri que costumava celebrar a missa "correndo" e pronunciar as palavras da consagração "rapidissimamente" por medo que fosse tomado pelo Espírito de Deus e caísse em êxtase, do qual era bem difícil voltar à realidade. Assim, para que isto não acontecesse, sempre havia perto dele um outro irmão que vigiava para que isto não acontecesse... Mas estas são coisas de santos e de místicos que não acontecessem conosco, pobres mortais.
Rezar a liturgia é preparar o nosso coração a acolher com amor o Senhor em nossa vida e celebrar no santuário interior desde já, a liturgia que um dia celebraremos sem fim no céu. Aprender a rezar a liturgia é caminhar com passos rápidos ao encontro com Deus.
Não há verdadeira santidade sem um amor apaixonado pela liturgia, e nem uma profunda oração sem fazer dos mistérios litúrgicos o coração da nossa contemplação.
"... Quando consagrar essa Hóstia em que Jesus, ‘o único santo’, renova a sua encarnação, peço-lhe que consagre também a mim com Ele como uma hóstia de louvor para a sua glória (cf. Hb 13,14), para que todas as minhas aspirações, todos os meus sentimentos e todos os meus atos sejam uma homenagem prestada à sua santidade." (Carta 216 – Beata Elisabeth da Trindade).

(Fr. Patrício Sciadini, OCD)

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