Amor e Relação

     Eu conversava recentemente com um jovem casal a famosa proposta de discutir a relação. Mulher adora e homem abomina. Ele 27, ela 25, mantinham relações de prazer sexual há quatro anos, mas ainda não se consideravam prontos para começar o prazer da vida a dois. Expliquei-lhes que os seres humanos são relacionais e que o amor vai se fazendo certeza à medida que as relações do casal se ampliam.
     Se tudo o que um pode oferecer ao outro são os prazeres das relações sexuais, então de fato não estão prontos para começar uma família porque faltarão prazeres ainda maiores do que o sexo. Ela quis saber que prazer maior pode haver do que o do sexo. Lembrei que há valores maiores do que a entrega do corpo. O cuidado, por exemplo. Mãe não faz filho e o entrega a si mesmo. Cuida! Cuidar é mais do que entregar. E pode ser um prazer maior do que o sexo. Pergunte à mãe que amamenta seu bebê, se ela o deixaria com fome para se dar ao seu marido! Será um dever, mas é prazer maior!
     Se podem oferecer, um ao outro, relações de amizade, de interesse, de cuidado, de partilhas; se um quer o bem e o sucesso do outro; se um pensa no outro não como objeto de prazer, mas como parceiro de alegrias; se um faz de tudo para ver o outro feliz; se, quando, por alguma séria razão, ele ou ela não podem oferecer o corpo e, mesmo assim, o sentimento não diminui; se, enfim, desenvolvem dez a vinte tipos de relações, então estão prontos para começar uma família, porque é quase certo que haverá amor entre eles.
Concordaram comigo. Disseram que, o namoro começou superficial, porque os dois se desejavam fisicamente, mas as coisas foram mudando. Tinham sido formados em ambientes liberais, estando o pai dela já no terceiro casamento e a mãe e o pai dele num segundo relacionamento. Para eles parecia mais do que natural, que, desde as primeiras semanas de namoro mantivessem relações sexuais.
     Mas, de fato, aconteceu com eles esta coisa chamada cuidado. De repente ela percebeu que queria cuidar dele e ele, dela. O que era superficial e apenas carnal foi se transformando em algo espiritual. Ele encheu-se de cuidados por ela e de receio de forçá-la a qualquer coisa que ela não quisesse; ela sentia o mesmo por ele. Tornou-se mais do que gostar, mais do que se dar prazer, tornou-se alegria de quem está junto, saudade de quem se separou por mais de uma semana, compreensão, apoio e um querer bem que ia muito além do querer sexo.
     Perguntei-lhes então, porque não estavam tão certos de que poderiam começar uma família e os dois disseram: - Precisamos ter certeza de que não estamos casando só porque gostamos um do outro. Queremos saber se um quer ter um filho com o outro e se nós queremos cuidar do filho ou da filha que tivermos por toda a vida.
     Não gostaríamos de como aconteceu com nossas famílias, darmos à luz a um filho ou uma filha e, depois, irmos cada um para o seu lado, cuidar da própria vida. Gostaríamos que fosse para sempre. Ainda não temos certeza desta paternidade e maternidade para sempre; ainda não descobrimos àquilo que o senhor disse no seu sermão: “Venha o que vier, juntos pra valer”.
     Talvez nos falte esta convicção do “venha o que vier, aconteça o que acontecer”, mas temos amor suficiente para chegar a esta convicção. Ouvi de ambos alternadamente: - “Não me imagino nem agora nem nunca com outra pessoa; já encontrei a pessoa dos meus sonhos; agora preciso começar o lar dos nossos sonhos”.
     Dentre os empecilhos para começarem de imediato o novo lar, estava a situação econômica dele que tinha muitas dívidas e dela que ainda era arrimo de mãe só e doente. O pai praticamente sumira. Tornei a falar que, por sermos seres relacionais, sentimos necessidade de relações e que as relações corpóreas precisam ser antecedidas e seguidas de outras relações de alma e que, já que há tempos ensaiavam com freqüência ser um só corpo, que ensaiassem ainda mais ser um só coração e uma só alma.
     Isto não se consegue sem diálogo, sem ouvir e deixar falar, coisa que eles faziam. Na minha pregação o que havia mexido com eles, razão pela qual tinham me procurado, foi também algumas sentenças: -“Boas relações, em geral produzem boas reações; más relações, em geral produzem más reações e relações urgentes não são necessariamente relações abrangentes. Quem tem muita pressa em desfrutar, acaba sem frutos”.
     A meu ver é este um dos problemas da sociedade atual; anda colhendo frutos que não semeou, não plantou, não cultivou e não esperou que amadurecessem. Na maioria das vezes quem morde um fruto verde acaba jogando fora o pedaço que mordeu e o fruto por inteiro. Riram-se da comparação e me prometeram que em menos de um ano eu seria convidado a oficializar o seu matrimônio. Estavam mais prontos do que imaginavam estar!

(Pe Zezinho, 08/04/2011)

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