INTRODUÇÃO:
O estado de inocência no qual foi criado o ser humano supunha a mente submetida a Deus, as potencias inferiores à razão e o corpo à alma. O pecado transtornou essa harmonia privilegiada e se desataram as paixões, produzindo um conflito interior de desordem e tensão; também no uso dos bens materiais que o ser humano necessita para subsistir e desenvolver sua vida na terra. E com freqüência o ser humano perde a consciência de sua dignidade; o que deveria ser equilíbrio se converte em desvirtuamento. Esquece que ele vale mais do que as coisas, e se apega às coisas – não se contenta com o necessário e o suficiente – , dando lugar à cobiça, que degrada a pessoa humana. A avareza se explica no pagão, que não tem outra esperança que a dos bens caducos; mas não tem sentido no cristão, que voa com sua esperança teologal para mais adiante do tempo e das coisas efêmeras deste mundo. A meta do cristão é Deus e a glória do céu; não se contenta com menos! Como a avareza se traduz tantas vezes no roubo e na usurpação dos bens do próximo, este preceito do Decálogo trata de ordenar a raiz interior destes pecados e proíbe cobiçar os bens alheios.
IDÉIAS PRINCIPAIS:
1. A avareza, raiz de todos os males
Para contrastar a avareza dos que amam este mundo, escreve São Paulo: “Nada trazemos ao mundo e nada poderemos levar dele. Tendo com o que nos alimentar e com o que nos cobrir, estamos com isso contentes. Os que querem enriquecer-se caem em tentações, em laços e em muitas cobiças loucas ou perniciosas, que levam os homens à perdição e à ruína, porque a raiz e todos os males é a avareza, e muitos, por deixar-se levar por ela, se extraviam da fé e a si mesmos se atormentam com muitas dores”(1 Timoteo 6,7-10). A lição de sensatez do Apóstolo não significa que não se deva desenvolver com a inteligência e o trabalho as possibilidades econômicas que ajudam a exercer a liberdade e a promover a família – e também a promover o bem estar dos demais suscitando empreendimentos, riqueza e trabalho, em benefício dos concidadãos – ; significa só que o ser humano não pode escravizar-se submetendo-se a bens efêmeros, porque ele é mais e vale mais. E, logicamente, a cobiça e a inveja dos bens alheios, que conduz à apropriação ilegítima do que não é seu, deve ser combatida e dominada.
2. Conformidade com o que Deus nos envia
O coração se identifica com aquilo que ama, e, se ama sem medida os bens materiais, se faz matéria – coisa – , reduzindo suas aspirações ao pouco bem estar material de alguns anos, não isentos de inquietações frente os riscos. Ao contrário, a conformidade com os bens e as riquezas que Deus dá – e com os que honradamente podem ser adquiridos – faz feliz; a cobiça e a inveja daquilo que não se possui é o que não faz ninguém ser feliz. E se o desejo de se ter bens e lutar por consegui-los com meios lícitos e finalidade honesta, é bom e agrada a Deus, o desejo desordenado ou a cobiça lhe ofende, da mesma forma que degrada o ser humano.
3. O que proíbe o décimo mandamento
O décimo mandamento proíbe a avareza ou o desejo desordenado de riquezas, e também o desejo de cometer uma injustiça que provocaria dano ao próximo em seus bens materiais.
Proíbe também a inveja ou tristeza que produz ver o bem do próximo, com o desejo desordenado de possui-lo e dele se apropriar, ainda que de forma indevida. Desta inveja – que soe proceder do orgulho – nascem o ódio, a maledicência e a calúnia. É necessário combater um pecado capital do qual nascem tantos males, e se consegue isto com a benevolência, a humildade e o abandono na providência de Deus.
4. O desprendimento dos bens da terra
Quando o ser humano tem inteira a sua conduta moral, quer dizer, quando impera a lei de Deus no coração, sobressai o desprendimento dos bens criados, porque o amor de Deus domina todo o ser. Percebe-se com força o que o Evangelho diz: “Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5,3). Por isso, o cristão deve orientar seus desejos na linha da esperança cristã, para que o uso das coisas deste mundo e o apego às riquezas não impeça – contra o espírito da pobreza do Evangelho – buscar um amor perfeito.
5. A luta contra o apego aos bens terrenos
O Evangelho exorta à vigilância, e este campo requer uma particular atenção, porque o apego aos bens tira a Deus do lugar que deve ocupar em nossa vida, desorientando-a .O remédio está em fomentar o desejo da felicidade verdadeira, que se alcança – aqui – vivendo na graça de Deus; e depois – na plenitude – no céu, vendo a Deus e gozando de Deus. A esperança de que veremos a Deus supera toda a felicidade. E para contemplar e possuir a Deus, é preciso mortificar a concupiscência com a ajuda da graça de Deus, vencendo a sedução do prazer e do poder.
6. É preciso amar e cumprir TODOS os dez mandamentos
O décimo mandamento desdobra e completa o nono. Ao proibir a cobiça dos bens alheios, ataca a raiz do roubo, da rapina e da fraude, proibidos no sétimo mandamento. Se não se domina a concupiscência dos olhos, chega-se à violência e à injustiça, proibidos no quinto preceito. A cobiça tem sua origem, assim como a fornicação, na idolatria, condenada nos três primeiros mandamentos da Lei. O décimo mandamento refere-se às intenções do coração; resume, como o nono, os dez mandamentos da lei de Deus.
Ao terminar este estudo dos mandamentos se adverte que, efetivamente, são um presente de Deus ao ser humano. Jesus Cristo ensinou-nos a cumpri-los e proclamou as bem aventuranças para nos ensinar o espírito que devemos ter para cumpri-los. Os mandamentos assinalam o caminho do céu de forma clara e objetiva. Mostram como amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, por amor a Deus.
7. Propósitos de vida cristã
Viver desprendidos do que temos e usamos.
Examinar sinceramente a consciência para evitar que nos domine a inveja do bem alheio; saber alegrar-se com os êxitos dos demais.
(Autor: Jayme Pujoll e Jesus Sanches Biela
Fonte: Livro "Curso de Catequesis" do Editorial Palavra, España
Tradução: Pe. Antônio Carlos Rossi Keller)
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