Eles são jovens, informais, misturam música religiosa com eletrônica,
chegam a vender mais discos do que astros sertanejos.
Os sacerdotes católicos Alessandro Campos, Adriano Zandoná, Nilso Motta (em pé, da esq. para a dir.) e Juarez de Castro: serenidade para lidar com o assédio feminino
Nos bastidores da foto ao lado, os jovens sacerdotes poderiam ser facilmente confundidos com integrantes de uma banda pop, não fossem as camisas clericais. “Miaaau!!”, brincava Adriano Zandoná ao ouvir que estava “gato” no ensaio. “Não vão sacanear e publicar a reportagem na semana da Parada Gay, né?”, dizia Juarez de Castro, levando os outros às gargalhadas. De chapéu e calça jeans apertada, Alessandro Campos emendava: “Escreva lá que estamos todos solteiros... Graças a Deus!”. Mais risos. Bonitos, carismáticos e informais, eles figuram entre os nomes emergentes de uma nova geração de religiosos católicos dedicados a divulgar o Evangelho além da missa. Para isso, estão cada vez mais presentes na mídia, com discos, livros e programas de rádio e TV, fenômeno que ganhou fôlego desde 2008, quando pela primeira vez dois padres (Fábio de Melo e Marcelo Rossi) ficaram na lista dos dez maiores vendedores de CDs do país. No ano passado, foram quatro (incluídos também Robson de Oliveira e Reginaldo Manzotti).
A gênese do fenômeno vem da década de 60, quando o padre Zezinho levou, por influência do iê-iê-iê dos Beatles, guitarras e baterias às missas do Santuário São Judas Tadeu, na Zona Sul. Ao mesmo tempo em que tocou o coração de muitos, foi chamado de “estrela” e “achincalhador da fé”. Polêmica semelhante envolveu Marcelo Rossi, que explodiu nos anos 90 fazendo os devotos suarem a camisa com suas coreografias e hoje soma vendas de 12 milhões de discos e 8 milhões de livros. Tal popularidade não é desprezada pela Igreja Católica, que viu sua penetração entre os brasileiros cair de 83% para 68% nos últimos vinte anos e, ao mesmo tempo, os evangélicos ganharem terreno, em parte pelo surgimento de pastores midiáticos e marqueteiros, em parte pelo engajamento político de sacerdotes e bispos simpáticos à Teologia da Libertação.
Não são poucos, porém, os dilemas dessa visibilidade: é possível cultivar a estampa de galã sem fazer com que as fiéis fantasiem outro tipo de relação? “A religião tem de dialogar com as diversas culturas”, avalia o padre Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Só é preciso cuidado para não chamar mais atenção do que Jesus.” Missão nada simples. Nos eventos presenciados por VEJA SÃO PAULO, as frequentadoras verbalizavam a todo momento o encantamento pelos predicados dessas novas estrelas dos altares paulistanos.
(Fonte: Claudia Jordão [colaborou Jéssika Torrezan] | 06.06.2012, Veja SP)
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