Ternura


Nas palavras "cuidadoso" e "atencioso" temos o sufixo "oso", que significa "cheio de". O cuidadoso está cheio de cuidado com o que faz. Está unido ao que faz. Ele congrega em si aquilo que toca. E também está unido a si mesmo. Ele une em si o que normalmente está desunido. Não se deixa dispersar, mas está em si, em relação e com o que existe. Termo afim de cuidado é ternura. É o afeto que devotamos às pessoas e a todas as coisas do mundo. Quem possui ternura adapta-se bem às outras pessoas. Vive em paz com elas. Sente a união com tudo o que faz e que toca. Trata-se de seus instumentos com ternura.

Aquele que possui ternura sente-se unido a tudo o que toma nas mãos.

Ternura implica intimidade das pessoas consigo mesma, com as diversas necessidades e desejos da alma, com suas paixões e emoções. Aquele que tem ternura convive também em paz com os opostos em seu coração. É afável com as pessoas porque sente a união interior com elas. Quem está em relação com as coisas e com a humanidade também é terno e afável. Não precisa temer que seja rude ou grosseiro. O cuidado brota de sua ternura, de sua relação com as coisas, consigo mesmo e com as demais pessoas. Ele é expressão de sua solidariedade.
  
A Pessoa Cuidadosa e Atenciosa sente-se una com tudo.
Sente-se parte e participante do mundo, das coisas e da humanidade.

Evágrio Pôntico, o mais importante escritor monacato primitivo (345-399), descreveu a ternura como a expressão mais autêntica da espiritualidade. Por mais asceta que seja, isto em nada a ajudará, por que ela não está em contato consigo mesma nem com a humanidade; luta contra si mesma e não se sente em união. Evágrio Pôntico enaltece a mansidão (ternura) de Jesus, que convida a sermos mansos e humildes de coração (Mt 11,29). A ternura, como as demais virtudes, requer esforço e renovada coragem de viver em união e paz com as contradições da própria alma. Requer esforço perseverar na relação amistosa com as pessoas, sobretudo quando nos assaltam sentimentos hostis.
  
A Ternura conosco e com os outros é fruto de esforço constante;
ela se manifesta no cuidade e atenção que dispensamos a tudo o que existe.

(Despertar o Cuidado, Anselm Grüm, monge Beneditino)

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