Eles falam em farisaísmo. Muitos deles, feridos no seu
âmago, não aceitam nem aproximação nem explicação da Igreja. Há ressentimento e
conflito.
As palavras vêm dos Estados Unidos e têm suas nuances em
cada país. Gay supõe celebração feliz. Seria o Eros sem culpa, mas não
necessariamente sem responsabilidade. Os não gays podem discordar, mas não
podem denegrir seus irmãos que optaram por assumir sua homossexualidade. Vai
além da postura. Envolve moralidade e caridade.
Straight ou hétero seria alguém que vive sua sexualidade
segundo o caminho tradicional e estabelecido na maioria das culturas.
Homo-afetivo e hétero-afetivo são, hoje, palavras incorporadas ao cotidiano da
maioria das democracias.
Vivendo numa democracia, a Igreja terá que se pronunciar,
sem perder o respeito por defensores de teses opostas, deixando claro sua
moral, posto que as sociedades aceitam novas morais no seu seio. E deverá fazê-lo,
sabendo que não é mais a única voz, nem a mais preponderante a mostrar os rumos
de uma nação. Acabou a tutela da Mãe e Mestra. A sociedade aceita ouvir, mas
não aceita ser pautada pela Igreja Católica nem pelas evangélicas. É a
realidade do Brasil de agora! Mas as Igrejas têm o direito de entrar no debate
do amor e da vida, como os outros entraram, mas sem ceder nos conceitos e
princípios. E devem saber fazê-lo.
Aqui entra a nossa comunicação. Não somos obrigados a
aceitar a moral sexual e matrimonial dos gays, nem eles são obrigados a aceitar
a nossa. Talvez um dos livros interessantes sobre o assunto seja o: Fé Além dos
Ressentimentos – Fragmentos Católicos em Voz Gay, de James Alison; editado pela
É-Realizações. Entra de cheio no assunto inclusão-exclusão. Incluí-los na
liderança. Nos sacramentos? Na comunhão? Excluí-los? E incluir é modernidade e
excluir é conservadorismo? Quem o diz?
Não somos obrigados a ceder aos seus argumentos, só porque
fazem pressão na mídia ou no Congresso. Eles pensam o mesmo sobre nós. Ensinam
o oposto, mas temos que nos ouvir. A questão gay é mais um dos desafios da
comunicação da Igreja, que sabida, mas nem sempre admitidamente, teve e tem
gays nas suas fileiras e até nas altas esferas. Agem como os marranos de ontem que
escondiam sua fé judaica sob aparência de cristianismo. Revelando-se, sofreriam
represálias. Mas, ao esconder sua condição, enganam sua igreja que impõe como
condição para o ministério, que seus pregadores não sejam nem homo-afetivos,
nem homófobicos. Nem aderir nem agredir. Como assumir este discurso?
Alguns abertamente gays querem espaço na Igreja. Outros,
veladamente gays, influenciam como podem a visão sexual dos católicos. Nem eles
desistem nem nós devemos desistir. E não se diga que os problemas de pedofilia
estão com os gays enrustidos. Não é verdade que gay seja o mesmo que pedófilo.
Qualquer católico que pense e estude sabe a diferença. Nem é verdade que ser
gay revela falta de caráter. É sentimento que não cabe no pensar moral da
Igreja Católica e de muitas igrejas cristãs, mas isso não nos autoriza a dizer
que são pessoas desequilibradas.
Disse-o bem o rapaz assumidamente gay que, sentindo-se
católico, mas com enorme dificuldade de viver a proposta da Igreja, declarou
que não pretendia mais ser padre, nem para dobrar, nem minar, nem mudar o
pensamento católico. Toda sociedade tem regras e ele ficaria onde poderia. Seu
amor pela igreja herdada dos pais e na qual aprendera quase tudo do que sabia,
era maior do que o amor pelo parceiro a quem chamava de namorado. Se a Igreja
lhe negava o altar, ao menos lhe desse outros auxílios. Se sua Igreja não
admitia seu amor por alguém do mesmo sexo, ao menos lhe desse o direito de ser
católico naquilo em que poderia ser, posto que muitos que sabidamente também
não vivem a integridade da fé permanecem católicos. Ele conhecia pouquíssimos
católicos 100%.
Mal sabia que estava repetindo o que Bento XVI afirma no
livro Luz do Mundo, ao dizer que muitos que se afirmam católicos não vivem como
tal e muitos que não se sentem católicos estão dentro do mistério, pelo seu
sofrer e pela sua procura.
Não é assunto que se resolva superficialmente. A Igreja vive
de conclusões, mas, para concluir, sofre muito em cada procura. A Pascom
(Pastoral da Comunicação) da Igreja, já que discorda, procura um jeito de
discordar dos gays sem machucá-los. Mas também a eles cabe o dever de, ao
discordar de nós, não investir contra seus irmãos sabidamente não gays, como se
fôssemos ferozes e excludentes.
Aos sacerdotes e religiosos com tendência para tais
relacionamentos, a fala da Igreja é clara. Não podem! Não entrem, ou se não
podem viver esta dimensão moral por ela proposta, saiam! A mesma sociedade que
tolera os gays não religiosos reage violentamente contra religiosos abertamente
gays. A duplicidade vem de todos os quadrantes. É aí que o conflito se
agiganta. Querem ser sacerdotes e religiosos, mas querem viver como gays. Em
alguns casos, soa como desafio aberto. Alguns moram juntos e não demonstram a
menor intenção de separar-se. Esperam que a Igreja aceite, ou se cale. Dá-se o
mesmo com igrejas evangélicas ou pentecostais.
São diversas as vozes, nas mais variadas igrejas a garantir
que esta moral já coube e ainda cabe no cristianismo. Na Igreja Católica, a
decisão está tomada: dialogar sem ceder e sem fazer de conta que não existe.
Crescem as reivindicações dos gays que, inclusive, assumem o nome como algo
digno, bom e belo. Há, desde agora, e haverá problemas logo adiante! Onde
houver caridade, o conflito será mais suave, mas prosseguirá. É a realidade a
ser enfrentada. Se tiver que ser não será não. Mas sem rimar com agressão nem
de um lado nem do outro. Conseguirão?
Pe Zezinho
(Fonte: www.padrezezinhoscj.com/wallwp/artigos_padre_zezinho/comportamental/ouvir-os-gays-e-os-heteros)
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