Queres ser curado?

Piscina de Siloé

Os milagres de Cristo são símbolos das diferentes circunstâncias da nossa salvação eterna [...]; aquela piscina é o símbolo do dom precioso que nos faz o Verbo do Senhor. Em poucas palavras, aquela água é o povo judeu; os cinco pórticos são a Lei, escrita em cinco livros. Aquela água está, pois, rodeada por cinco pórticos tal como o povo estava rodeado pela Lei que o definia. A água que se agitava e se turvava é a Paixão do Salvador no meio desse povo. Quem descesse à água era curado, mas só um, para representar a unidade. Os que não podem suportar que se lhes fale da Paixão de Cristo são orgulhosos; não querem descer e não são curados. «O quê?», dizem esses homens altivos. «Acreditar que um Deus encarnou, que um Deus nasceu de uma mulher, que um Deus foi crucificado e flagelado, que foi coberto de chagas, que morreu e foi sepultado? Não, jamais acreditaria nessas humilhações de Deus: são indignas dele!» 

Calai a cabeça e deixai falar o coração. As humilhações de Deus parecem indignas aos arrogantes e é por isso que eles estão tão afastados da cura. Guardai-vos, pois, desse orgulho; se desejais a vossa cura, aceitai descer. Teríeis razão para vos preocupardes se vos dissessem que Cristo tinha sofrido alguma mudança ao encarnar. Mas não. [...] O vosso Deus mantém-Se como era, não receeis; Ele não morre e impede-vos de morrer. Sim, Ele permanece o que é; nasce de uma mulher, mas fá-lo segundo a carne. [...] Foi como homem que Ele foi preso, amarrado, flagelado, coberto de ultrajes e, por fim, crucificado e morto. Porque vos aterrorizais? O Verbo do Senhor permanece eternamente. Quem repudia as humilhações de um Deus não quer ser curado da ferida mortal do seu orgulho. 

Pela sua encarnação, nosso Senhor Jesus Cristo restituiu, pois, a esperança à nossa carne. Tomou para Si os frutos bem conhecidos desta terra: o nascimento e a morte. O nascimento e a morte são, com efeito, bens que a terra possuía em abundância; mas nela não havia ressurreição nem vida eterna. Ele colheu os frutos desgraçados desta terra ingrata e em troca deu-nos os bens do seu reino celestial.    

(Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja. 
Sermão 124. )

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