IMAGENS
Argumentava inclusive que o próprio homem foi criado à imagem de Deus e é por isto que se deve amar o próximo. Lembrava as sábias palavras de São Basílio, bispo de Cesaréia que dizia que a veneração prestada à imagem transita para o protótipo, isto é, para aquele que é representado na imagem e a partir do qual esta tira a sua forma. Ressaltava a importância, sobretudo, do Crucifixo: "Muitas vezes, sem dúvida, quando não temos a paixão do Senhor no espírito e vemos a imagem da crucificação de Cristo, lembramo-nos dessa mesma paixão e prostramo-nos em adoração, não ao material, mas àquilo de que ele é imagem; da mesma maneira também não prestamos culto ao material do Evangelho nem ao da Cruz, mas ao que por eles é expresso". No que tange a Nossa Senhora, Anjos e Santos, se presta o culto de veneração, por serem eles criaturas de Deus.
No livro do Êxodo, como no do Deuteronômio (Ex 20,4; Dt 7,5) a proibição de imagens se refere à representação dos falsos deuses. Tanto isto é verdade que Deus mandou Moisés providenciar a imagem de uma serpente de bronze à qual o próprio Jesus se referiu como símbolo do Filho do Homem levantado na cruz (Jo 3,14 ss). A Moisés também mandou Deus fazer dois querubins para cobrirem o propiciatório (Ex 25,18 ss) e Salomão ordenou que se fizesse querubins e outras figuras como leões e bois no templo de Jerusalém (1 Reis 7,29).
Temos que distinguir imagem e ídolo. Imagem não é o mesmo que ídolo. Chama-se ídolo: uma imagem falsa, um simulacro a que se atribui vida própria, conforme explica o profeta Habacuc 2, 18. Eis o que claramente mostra Habacuc, dizendo: "Ai daquele que diz ao pau: Acorda, e a pedra muda: Desperta" (2, 19). A Bíblia narra no livro de Josué: "Josué prostrou-se com o rosto em terra diante da Arca da Aliança, e assim permaneceu até à tarde, imitando-o todos anciãos de Israel" (Jos 7, 6); é evidente que não cometeram idolatria Josué e os anciãos de Israel ao se prostrarem diante da Arca. Em todo decurso da História as imagens tiveram seus inimigos fortuitos.
A imagem é uma lembrança que se torna fonte de graças por tudo que ela recorda a respeito do Redentor e das virtudes dos seus seguidores e servos fiéis. Os artistas, desde o início do cristianismo, se inspiraram nos temas bíblicos e na existência dos epígenos de Jesus para retratarem as cenas que, através dos séculos, embevecem as almas nobres e piedosas. As imagens são um meio e não um fim em si.
A visão de uma imagem desperta na alma pensamentos salutares, o anseio de imitar o santo de sua devoção, a se sacrificar por Jesus crucificado, pelo Coração amantíssimo de Cristo, pois "amor com amor se paga".
Entre os orientais as imagens possuem também grande importância. A grade que fecha o santuário tornou-se uma iconostese, ornada de imagens. Os concílios ecumênicos sempre censuram a exclusão sistemática de imagens como contrária à tradição cristã. A linguagem figurada do artista, escultor ou pintor, é de suma valia para a evangelização. As imagens são veículos aptos da fé e do amor dos cristãos. As representações óticas são instrumentos aptos para exprimir as verdades reveladas.
I Êxodo 25, 10-22: A Arca da Aliança
“Disse o Senhor a Moisés:
Faça uma arca de madeira de acácia, com cento e vinte e cinco centímetros de comprimento, por setenta e cinco de largura e setenta e cinco de altura. Revista a arca com ouro puro, por dentro e por fora; e, ao seu redor, aplique uma moldura de ouro. Funda para ela quatro argolas de ouro, para colocar nos quatro cantos inferiores da arca. Faça também varais de madeira de acácia e revista-os de ouro, e enfie os varais nas argolas de cada lado da arca, para poderem transportá-la. Os varais ficarão colocados nas argolas da arca e nunca serão tirados.Dentro da arca, coloque o documento da aliança que darei a você. Faça também uma placa de ouro puro, com cento e vinte e cinco centímetros de comprimento, por setenta e cinco de largura. Nas duas extremidades da placa, faça dois querubins de ouro batido: cada um sairá de um extremo da placa e a cobrirão com as asas estendidas para cima. Estarão diante um do outro, olhando para o centro da placa. Cubra a arca com a placa, e dentro guarde o documento da aliança que darei a você. Aí me encontrarei com você; e, de cima da placa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, direi a você tudo o que deve ordenar aos filhos de Israel.”
A respeito das imagens, lemos em Êxodo capítulo 20, Deus proibindo a adoração de imagens, e até mesmo de confeccionar imagens. Porém, para termos a interpretação correta deste texto é necessário situá-lo no seu contexto, ou seja, não podemos ler uma frase ou um versículo separado de toda a passagem e dar-lhe uma interpretação. Caso o façamos, colocaremos Deus em ‘cheque’ e diremos que Ele se contradisse, pois na passagem acima, o próprio Deus ordena a Moisés a confecção de imagens para a Arca da Aliança. Seria Deus pessoa de duas palavras? Claro que não!
1. O que acontece: quando Deus proíbe a confecção e adoração de imagens na passagem do Êxodo e em tantas outras da bíblia, existe a ligação direta entre a proibição e o Primeiro Mandamento que é amá-lO sobre todas as coisas. Percebemos, mais explicitamente nesta passagem do Êxodo, que Deus é o único Deus, e só Ele deve ser adorado. É em relação a outros deuses que o verdadeiro Deus proíbe confeccionar e adorar imagens.
2. Para entendermos bem: é proibido fazer imagens do céu, da terra, das plantas, dos peixes, das aves, dos anjos, dos homens e de qualquer outra coisa, se nós de alguma forma, consideramos todos estes elementos como sendo deuses, portanto, nós católicos, sabemos que devemos render adoração somente a Deus. Está muito clara para nós que as imagens dos santos não são imagem de deuses, por isso, não há nada de errado em confeccioná-las. São imagens de homens e mulheres que derramaram seu sangue pelo Evangelho ou exemplos de santidade.
II Números 21, 4-9: A Serpente de Bronze
“Do monte Hur, eles tomaram o caminho para o mar Vermelho, contornando o território de Edom. Mas o povo não suportou a viagem e começou a murmurar contra Deus e contra Moisés, dizendo: “Por que nos tiraste do Egito? Foi para morrermos neste deserto? Não temos nem pão nem água, e estamos enjoados deste pão de miséria". Então Javé mandou contra o povo serpentes venenosas que os picavam, e muita gente de Israel morreu. O povo disse a Moisés: "Pecamos, falando contra Moisés e contra você. Suplique a Javé que afaste de nós estas serpentes.” Moisés suplicou a Javé pelo povo. E Javé lhe respondeu: "Faça uma serpente venenosa e coloque-a sobre um poste: quem for mordido e olhar para ela, ficará curado". Então Moisés fez uma serpente de bronze e a colocou no alto de um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente, olhava para a serpente de bronze e ficava curado.”
Como já tratamos no texto acima, Deus, em Êxodo 20, proíbe a confecção e a adoração de imagens. Mas em Êxodo 25, o mesmo Deus pede que sejam colocadas imagens de querubins na arca, o que nos leva a entender claramente que as imagens que proíbe fazer são aquelas em honra dos falsos deuses.
Nesta passagem das serpentes venenosas, seria mais fácil a Deus, simplesmente fazer sumir as serpentes que outrora ele havia mandado. Assim, o povo de Israel não cairia no risco de cometer idolatria adorando a imagem de uma serpente.
Mas não, Deus ordena a Moisés que levante sobre um poste a imagem de uma serpente. Diferentemente do bezerro de ouro, esta sim, imagem de um falso deus (Ex 32), a imagem da serpente era um sinal de benção e cura. E tudo estava muito claro para o povo de Deus: não era a imagem da serpente que curava, era Deus. Mas o povo tinha que olhar para a imagem da serpente para ser curado. Nós católicos temos esta mesma compreensão a respeito das imagens. Por isso, não há nada de errado em nossas imagens, pois nós não adoramos as imagens, e sabemos que nelas não há poder para curar, porém, elas são um sinal de Deus, como a serpente era um sinal através do qual o povo era curado por Deus. Aliás, esta não é a única vez que o povo de Israel fez o uso de imagens. No próprio Templo, lugar sagrado dos judeus, existia várias imagens. Vejamos quais eram:
- QUERUBINS (I Reis 6,23-28)
- BOIS (I Reis 7,25)
- BOIS e LEÕES e QUERUBINS! (I Reis 7,28-29)
- MAIS QUERUBINS e LEÕES (I Reis 7,36);
Sim, para o povo de Israel estava claro: a proibição era referente à imagens de falsos deuses.
Enfim, para concluir, lembremos que nos primeiros séculos a grande maioria do povo era analfabeta e mesmo para os alfabetizados, era difícil conseguir os escritos do Novo Testamento, já que sua confecção não era fácil dada as dificuldades daquele tempo. Portanto as imagens se tornaram uma referência para o povo mais simples, e até uma maneira de compreender o Evangelho. Para os primeiros cristãos, recém convertidos ao cristianismo e ao mesmo tempo muito próximos do judaísmo, a noção com relação às imagens proibidas e não proibida era a mesma do povo judeu.
Então, não tenhamos medo, não há nada de errado nas imagens que estão em nossas paróquias, capelas e catedrais.
AS RELÍQUIAS
Chamamos de "relíquias", os restos mortais dos Santos, ou então, objetos que pertenceram aos Santos. Mas será que este tipo de veneração feita na Igreja Católica é correto? A resposta é sim. Não há nada de errado em guardar e venerar as relíquias dos santos, através da qual Deus opera muitos milagres entre os fiéis.
Já no Antigo Testamento temos um exemplo de Deus operando através dos restos mortais de um homem santo, no caso, o Profeta Eliseu:
"Eliseu morreu e foi enterrado. Todos os anos, bandos moabitas faziam incursões no país. Certa vez, alguns homens que estavam enterrando um morto avistaram um destes bandos. Jogaram o corpo dentro do túmulo de Eliseu e foram embora. Aconteceu que o corpo, tocando os ossos de Eliseu, reviveu e se colocou de pé." (2Rs 13,20-21)
No Novo Testamento temos também outro exemplo da ação de Deus por meio de relíquias, desta vez, através de objetos:
"Deus realizava milagres extraordinários pelas mãos de Paulo, a tal ponto que pegavam lenços e aventais usados por Paulo para colocá-los sobre os doentes, e estes eram libertados de suas doenças e os espíritos maus eram afastados." (At 19,11-12)
Dois exemplos claros da Palavra de Deus que mostram a importância que as relíquias têm e as maravilhas que Deus opera através delas.
O QUE NOS ENSINA A DOUTRINA DA ICAR?
“A Imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova “economia” das imagens.” (CIC 1259)
"Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos à Cristo: são-no também as imagens sacras da Santa Mãe de Deus e dos Santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam “a nuvem de testemunhas” (Heb 12,2) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criado “à imagem de Deus” e transfigurado “à sua semelhança”, assim como os anjos, também recapitulados em Cristo. (CIC 1261)
“... A contemplação dos ícones santos, associada à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração para que o mistério celebrado se grave na memória do coração e se exprima em seguida na vida dos fiéis.” (CIC 1162)
(Rone Honorio, G.O. Bom Jesus)
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