Apocalipse 12

"Uma Mulher Vestida de Sol"
A visão que João tem da mulher vestida de Sol, retrata a essência do livro do Apocalipse. Com muitos níveis de sentido, mostra um acontecimento passado que prefigura um acontecimento do futuro distante. Recapitula o Antigo Testamento ao mesmo tempo que completa o Novo. Revela o céu, mas em imagens da terra.
A visão de João começa com a abertura do templo de Deus no céu: "e a arca da aliança apareceu em seu templo" (Ap 11,19). Talvez não apreciemos plenamente o valor de choque desse versículo. No tempo do cativeiro babilônico, o profeta Jeremias havia escondido a arca em lugar que "ficará desconhecido até que Deus haja consumado a reunião do seu povo" (2Mc 2,7).
Essa promessa se cumpre na visão de João. O Templo apareceu e "houve relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto e forte tempestade de granizo". E então "Um grande sinal apareceu no céu: uma mulher vestida de sol, a lua debaixo dos pés, e uma coroa de doze estrelas na cabeça; estava grávida" (Ap 12, 1-2). João não introduziu a arca só para desistir dela imediatamente, Creio (com os Padres da Igreja) que quando João descreve a mulher ele descreve a arca - da nova aliança. E quem é a mulher? É aquela que dá à luz o filho varão que deve apascentar todas as nações. O menino é Jesus; sua mãe é Maria.
O que tornava a arca original tão santa? Não o ouro que revestia o exterior, mas os dez mandamentos no interior - a Lei que o dedo de Deus escreveu nas tábuas de pedra. O que mais havia no inteiror? Maná, o pão milagroso que alimentou o povo na caminhada pelo deserto; o bastão de Aarão que floresceu como sinal de sua função de sumo sacerdote (veja Nm 17).
O que torna a nova arca santa? A antiga arca continha a palavra de Deus escrita na pedra; Maria trazia em seu seio a Palavra de Deus que se fez homem e habitou entre nós. A arca continha maná, Maria trazia o pão vivo descido do céu. A arca continha o bastão do sumo sacerdote Aarão; o seio de Maria continha o sumo sacerdote eterno, Jesus Cristo. No templo celeste, a Palavra de Deus é Jesus e a arca onde ele habita é Maria, sua mãe.
Se o menino é Jesus, então a mulher é Maria. Essa interpretação foi aprovada pelos mais racionais dos Padres da Igreja, santo Atanásio, santo Epifânio e muitos outros. Contudo, "a mulher" também representa mais. Ela é a "filha de Sião", que criou o Messias em Israel. É também a Igreja sitiada por Satanás, mas preservada em segurança.
Outros biblistas argumentam que a mulher não é Maria pois, segundo a tradição católica, Maria não sofreu as dores do parto. Entretanto, as dores da mulher não tem de ser dores físicas. São Paulo, por exemplo, descreveu como dores de parto sua agonia até Cristo ser formado em seus discípulos (veja Gl 4,19). Assim, o que sofre a mulher pode ser descrito como sofrimento da alma - o que Maria conheceu perto da cruz, ao se tornar a mãe de todos os discípulos amados (veja Jo 19, 25-27).
Outros alegam que a mulher do Apocalipse não é Maria porque a mulher do Apocalipse tem outros filhos, e a Igreja ensina que Maria foi sempre virgem. Mas as Escrituras usam com frequência "prole" (em grego, sperma) para descrever descendentes espirituais,. Os filhos de Maria, sua prole espiritual, são "os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus" (ap 12,17). Somos a outra prole da mulher. Somos os filhos de Maria.
Assim, o Apocalipse também retrata Maria como a "nova Eva", mãe de todos os viventes. no jardim do Éden, Deus prometeu pôr "hostilidade" entre Satanás, a antiga serpente, e Eva - e entre a "descendência" de Satanás e a dela (Gn 3,15). agora, no Apocalipse, Maria, é o filho varão, Jesus Cristo, que vem derrotar a serpente (em hebraico, a mesma palavra, nahash, aplica-se a dragão e à serpente).
Esse é o admirável ensimamento dos Padres, Doutores, santos e papas da Igreja, antigos e modernos. É o ensinamento do Catecismo da Igreja Católica (veja o nº 1138). Entretanto, preciso mencionar que não e apoiado por muitos biblistas de hoje. Contudo, o ônus da prova cabe aos que discordam. Na carta encíclica Ad Diem Illum Laetissimum, o papa são Pio X falou com eloquência pela Tradição:
"Todos sabem que essa mulher representava a Virgem Maria... Portanto, João viu a Santíssima Mãe de Deus já na eterna felicidade, mas em trabalho de um parto misterioso. Que parto era esse? Com certeza, era o nascimento de nós que, no exílio, ainda devemos ser gerados para a perfeita caridade de Deus e para a felicidade eterna".
(O Banquete do Cordeiro, Scott Hahn)

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